23 de out. de 2018

O Brasil é grande

Have Patience... Brazil is Big

General Olimpio Mourão Filho em 1964

Creio que essa matéria do programa ABC News Reports nunca foi exibida no Brasil. Mostra o país em 1964, na época do golpe de Estado que derrubou o presidente João Goulart.

Foi apresentada pela rede de televisão ABC, mas, nos registros do arquivo nacional norte-americano, consta como tendo sido feita pela CIA (veja detalhes sobre o filme mais abaixo).

A reportagem diz que Goulart levava o país ao comunismo, mas foi impedido pelo golpe de 64.

Há cenas da Revolta dos Marinheiros, de 25 de março de 1964, no Rio de Janeiro, inclusive imagens do cabo Anselmo.

Também foram filmadas imagens de protestos no Rio e do incêndio da UNE, que é atribuído aos comunistas. Cenas das tropas do general Mourão Filho no Maracanã e do Congresso Nacional em Brasília.

Entrevistas com Mourão Filho, Vasco Leitão da Cunha (ministro das Relações Exteriores), Carlos Lacerda (governador da Guanabara, atual cidade do Rio de Janeiro), Castello Branco (primeiro presidente do regime militar), Roberto Campos (ministro do Planejamento) e George Ball (subsecretário de Estado dos EUA).

A segunda parte da reportagem mostra a pobreza no Nordeste, a produção de café e de ferro, bem como as contradições sociais do Rio de Janeiro, além da cidade de São Paulo e informações sobre a Petrobras.

O filme é aqui exibido por cortesia dos National Archives and Records Administration dos Estados Unidos da América. Por causa do tamanho, eu o divulguei no Google Drive: clique aqui para assistir.

REGISTRO DO FILME NO ARQUIVO NORTE-AMERICANO:
Record Group 263: Records of the Central Intelligence Agency, 1894-2002. Series: Moving Images Relating to Intelligence and International Relations, 1947-1984. Item: Have Patience, 1964

20 de out. de 2018

Construção de Brasília e visita de Eisenhower

Visita de Eisenhower ao Brasil em 1960 mostra imagens de Brasília


O vice-presidente de Eisenhower, Richard Nixon, havia feito uma viagem à América do Sul em 1958 que foi desastrosa: em Lima e em Caracas, Nixon foi bastante hostilizado, enfrentando situações constrangedoras em seus deslocamentos sobretudo por causa de manifestações de estudantes contrários à sua presença.

O presidente Eisenhower enfrentava mal o problema de Cuba: em julho de 1960, retaliando o acordo que Fidel Castro fizera com a URSS, ele suspenderia a importação de açúcar cubano pelos EUA.

Ante de tomar essas medidas mais duras, visitou a América Latina.

Em fevereiro de 1960, ele esteve em vários países sul-americanos, numa espécie de campanha de publicidade. Foi o projeto “Amigos”.

Essa é uma velha história da “Guerra Fria”, quando a Revolução Cubana fez com que o tradicional desinteresse e menosprezo dos EUA pela América Latina - seu "quintal" - se tornassem preocupação.

O que importa, nessas filmagens sem som, são as imagens que ficaram (feitas por pessoal militar dos EUA para a produção de propaganda política norte-americana).

Nelas, vemos Juscelino Kubitschek recebendo Eisenhower, cenas da Banda dos Fuzileiros Navais do Brasil recebendo o visitante e, sobretudo, a cidade de Brasília ainda em construção: os ministérios com muitos andaimes de madeira, Eisenhower recebendo a chave da cidade (ainda não inaugurada) das mãos de JK, o vice-presidente João Goulart e o sempre presente coronel Vernon Walters (atuando, nessa época, como tradutor). Muitos “candangos” e populares acompanham a visita (alguns bem desanimados por terem de balançar bandeirinhas saudando o visitante). O Palácio do Planalto em construção é mostrado e a imagem do “esqueleto” da Catedral de Brasília ainda em obras impressiona.

Esse filme está no National Archives and Records Administration (NARA), em College Park (MD), USA. Ele se intitula “Coverage of President Dwight D. Eisenhower's goodwill tour of South America” e as referências completas são: RG 342, Records of U.S. Air Force Commands, Activities and Organizations, 1900-2003. Series Moving Images Relating to Military Aviation Activities, 1947 – 1984. Local Identifier: 342-USAF- 29253

COURTESY OF NATIONAL ARCHIVES AND RECORDS ADMINISTRATION, USA.

Veja, em outras postagens desse blog, como fazer cópias dos filmes no NARA.

16 de out. de 2018

A candidatura do "sargento ignorante"

Carlos Fico


Sua eleição resultaria em um "desastre para o Brasil". Ele seria "despreparado" e sua equipe, "muito ruim". A reeleição do então presidente seria a solução para impedir sua candidatura. O presidente achava que o candidato não tinha paciência nem equanimidade.

Assim foi avaliado Costa e Silva conforme relatos da diplomacia norte-americana.

Nesta postagem, vou incluir vários documentos correlatos. Neste caso, sobre a candidatura do general Costa e Silva, ministro da Guerra, à sucessão do marechal Castello Branco.

Traduzi alguns trechos que me parecem destacar aspectos interessantes. Entretanto, a ideia do blog é estimular a pesquisa da documentação norte-americana, o que demanda conhecimento do inglês. Há mais documentos sobre Costa e Silva no arquivo norte-americano: para saber como consultá-los, veja as dicas de pesquisa em outras postagens deste blog.

Os documentos aqui divulgados falam da tentativa dos assessores de Castello Branco de minar a candidatura do ministro da Guerra em 1965 e 1966. Chamam atenção, também, para algo pouco conhecido: Costa e Silva queria governar com uma constituição, deixando de lado os atos institucionais. Era nacionalista, crítico da industrialização (que prejudicaria a vocação agrícola do Brasil) e lutava contra a imagem de "sargento ignorante".

***

O segundo presidente do regime militar, Costa e Silva, se impôs como candidato contra a vontade do primeiro, Castello Branco. Os principais assessores de Castello tudo fizeram para evitar a candidatura de Costa e Silva.

No dia 7 de maio de 1965, o embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, enviou telegrama secreto (veja aqui a página 1 e a página 2) para o Departamento de Estado relatando várias conversas que o adido militar, Vernon Walters, havia tido com o presidente Castello Branco dias antes. No parágrafo 5 deste telegrama, Gordon informa que Walters também se encontrou com o general Ernesto Geisel, então chefe do Gabinete Militar de Castello, que teria demonstrado preocupação com o fato de Castello se recusar a concorrer à reeleição: “Disse que o presidente não discutirá o assunto nem com os confidentes mais próximo. Mas Geisel acrescentou que estava confiante de que, por fim, quando o presidente percebesse o calibre dos candidatos que se confrontariam naquele momento, ele poderia ser convencido a concorrer”.

Oito meses depois, o próprio Castello Branco admitiria para Vernon Walters que a candidatura de seu ministro da Guerra “estava forte”. É o que está dito no relato (página 1, página 2) que o encarregado de Negócios da embaixada, Philip Raine, fez sobre conversa de ARMA (Walters sempre usava a sigla “ARMA” para referir-se a si mesmo nos telegramas. A sigla deriva da combinação das palavras army e attaché) com o presidente havida no dia 22 de janeiro de 1966. Castello teria dito que “A maioria dos potenciais oponentes estava relutante em dar um passo à frente, particularmente os civis e, se essa situação continuasse, Costa e Silva pode muito bem ser o próximo presidente do Brasil. Se isso ocorresse, ele provavelmente ‘cresceria’ consideravelmente no posto. As qualificações de que Costa e Silva mais carecia para a presidência eram paciência e equanimidade” (parágrafo 1).

Em abril, Philip Raine transmitiu ao Departamento de Estado as impressões do ministro da Justiça, Mem de Sá – que estaria “deprimido e amargurado” – (parágrafo 1 da página 1): “(...) ele disse que o ministro da Guerra, Costa e Silva, não poderia ser impedido e, a menos que algum imprevisto ocorresse, ele seria o próximo presidente do Brasil. Mem de Sá disse que isso pode ser um desastre para o Brasil. Em resposta à minha pergunta sobre a base de seu julgamento quanto à competência de Costa e Silva, ele não diria mais do que isso, o ministro da Guerra é despreparado, mas particularmente o grupo ao seu redor é muito ruim” (parágrafo 2).  Segundo Raine, a única observação não pessimista de Mem de Sá foi sua “esperança de que, como “Deus é brasileiro”, se encontraria um jeito” (parágrafo 4 que está na página 2).

Costa e Silva foi indicado candidato pela Arena em 25 de maio de 1966.

Em setembro, o embaixador John Tuthill (que substituíra Gordon desde junho de 1966) relatou conversa que teve com o candidato, na companhia do sempre presente Vernon Walters, durante jantar oferecido ao candidato na residência da embaixada. Estavam presentes também D. Yolanda Costa e Silva, o filho Aécio Costa e Silva e o assessor Hernani d’Aguiar. O relato ocupou cinco páginas (1, 2, 3, 4 e 5). Costa e Silva, entre outras coisas, disse que, desde JK, o Brasil dava ênfase exagerada à industrialização (parágrafo 2). Sobre política, teria dito que “Como presidente, ele esperava governar sem atos institucionais ou poderes especiais, mas primeiro o atual governo deve dar-lhe uma nova constituição. Ele supunha que poderiam conseguir que o Congresso a aprovasse, mas se isso não pudesse ser feito, então ela deve ser publicada de qualquer modo” (parágrafo 6).

Costa e Silva foi eleito presidente da República pelo Congresso Nacional no dia 3 de outubro de 1966.

Poucos dias depois, Raine mandou ao Departamento de Estado uma avaliação de três páginas (1, 2 e 3) sobre o futuro presidente avaliando sua habilidade em se manter longe de problemas. Disse também que “Embora tenha indicado que, no geral, seguirá as políticas do atual governo, ele ao mesmo tempo tem estimulado a impressão de que sua administração representará um ‘retorno à normalidade constitucional’. Sua capacidade de transmitir essa impressão se deve em parte ao fato de que vários poderes presidenciais arbitrários expirarão com o mandato de Castello Branco, mas Costa e Silva disse em várias ocasiões que espera governar com os poderes que receberá e não buscar novas poderes extraordinários” (parágrafo 5).

Como é comum nesse tipo de informação, Raine acrescentou suas impressões sobre traços pessoais do futuro presidente: “No lado pessoal, Costa e Silva manteve sua imagem como um sympatico homem do povo. Sua conduta astuta, geralmente contida, ajudou de algum modo a dissipar a outra parte de sua imagem anterior, a de um “sargento ignorante”. Embora ele não pareça ter gerado qualquer hostilidade específica, também deve ser dito que não parece haver nenhum setor significativo da sociedade brasileira que seja genuinamente otimista sobre as perspectivas de sua administração. Sua esposa, Yolanda, continua sendo uma parte importante da imagem de Costa e Silva. Aparentemente, ela estava mais receptiva às tentativas de separá-lo do presidente do que ele, mas não parece ter influenciado muito suas ações nesse sentido. Seu filho, Alcio, retirou-se do Exército e envolveu-se em negócios particulares causando algum comentário na época por causa de seu suposto emprego pela General Electric” (parágrafo 8).

SOBRE OS DOCUMENTOS
Todos os documentos citados estão na caixa 1937 do fundo documental (Record Group) 59, nos National Archives and Records Administration, em College Park (MD). Esses documentos, outrora sigilosos, foram desclassificados pelas autoridades norte-americanas pertinentes conforme NND 959000.

11 de out. de 2018

Uma maravilha cênica do mundo

Filme colorido, de 1945, mostra o Rio de Janeiro naquela época.


Não é sobre a ditadura miliar, mas vou divulgar aqui. Acho que essas imagens coloridas são inéditas.

Este filme exibe as imagens originalmente em cores, tomadas provavelmente em 1944-1945, que foram utilizadas para a edição do filme Rio de Janeiro, já divulgado anteriormente, em preto e branco (link mais abaixo), no contexto da campanha de propaganda política e da “Política de Boa Vizinhança” que marcaram a atuação dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial.

O título do filme editado é Rio de Janeiro. Capital City of Brazil. A Scenic Wonder of the WorldO filme editado, já anteriormente divulgado, conta com narração. As imagens originais coloridas aqui divuldas não têm som.

O interesse destas imagens consiste na visualização de filmagens coloridas da cidade do Rio de Janeiro em 1944/1945. Creio que esta filmagem colorida que serviu de base para o filme editado em P&B ainda não foi divulgada.

O filme foi produzido pelo Office of Strategic Services em colaboração com The Office of the Coordinator of Inter-american Affairs - agências do governo norte-americano. Se você quiser conhecer mais sobre o Office of the Coordinator of Inter-american Affairs, há tese, que orientei, que aborda o tema, de autoria da historiadora Erica Gomes Daniel, que você pode consultar aqui. A tese foi publicada sob a forma de livro.

O filme editado, em preto e branco, pode ser visto aqui.

No início do filme editado (não neste), além da narração, letreiros o introduzem com dizeres em inglês – aqui traduzidos:

Há quase quatrocentos anos, um nobre português, depois de desembarcar no Rio, escreveu: “Tudo aqui é de uma beleza que dificilmente pode ser descrita”. Em nossos dias, o falecido grande autor e viajante do mundo, Stefan Zweig, em seu livro Brazil, Land of Future, disse: "Em toda a terra ... não há mais bela cidade ... a beleza desta cidade não é fácil de descrever. Isso desafia as palavras ... Porque é muito variada, magnificente, inesgotável demais. Até mesmo um artista que busca revelar o Rio em sua totalidade, com todas as suas mil cores e paisagem, não consegue completar tal trabalho em uma vida ... ”

Inúmeros outros autores e viajantes têm competido uns com os outros para descrever a extraordinária beleza desta cidade. Como eles próprios admitem, todos falharam.

Talvez a câmera possa pintar, com mais precisão, a tela, de tirar o fôlego, com que a natureza, em um momento de excepcional extravagência, focalizou o Rio de Janeiro, nas lendárias margens da Baía da Guanabara.

A referência completa do filme (preservado nos National Archives and Records Administration, em College Park (MD), USA, é RG (Record Group) 306. Records of the U.S Information Agency, 1900 – 2003 Series: Moving Images Relating to U.S. Domestic and International Activities , 1982 – 1999. Item:  Rio de Janeiro. Local Identifier: 306.5436.

Veja o post Como copiar um filme no Nara para maiores informações (clique na foto)



9 de out. de 2018

Como copiar um filme no NARA


MEMBROS DO CONGRESSO DOS EUA OUVEM DISCURSO DE DUTRA EM 1949




Não é um filme sobre a ditadura, mas resolvi divulgá-lo aqui porque são poucos os filmes sonoros com o presidente Eurico Dutra.

A cópia aqui exibida é de muito baixa qualidade porque eu apenas filmei com meu celular a reprodução do filme de 35mm. O áudio está praticamente anulado pelo barulho da estação de visualização (veja o equipamento utilizado para assistir filme em rolo no NARA em foto mais abaixo). Além disso, converti e reduzi o tamanho do arquivo para não ter trabalho em inseri-lo aqui no blog.

Entretanto, é possível comprar cópia de qualidade - e este é o principal objetivo deste post, já que o procedimento também se aplica a filmes de 16 e 35mm que estão no National Archives and Records Administration (NARA), em College Park, MD, (inclusive sobre o período da ditadura militar).

Esses filmes, ao contrário de outros que estejam copiados em suporte VHS, U-Matic ou DVD, não podem ser copiados no NARA porque não há equipamentos apropriados para isso. Você pode copiar qualquer audiovisual que esteja em VHS, U-Matic ou DVD para DVD porque há máquinas adequadas. Para filmes em rolo, não.

Mas eles podem ser copiados por fornecedores pagos recomendados pelo NARA. Para ler instruções sobre como proceder nesse sentido clique aqui.

Por isso, é muito comum primeiro filmar com celular a reprodução desse tipo de material e, depois de bem avaliar a real necessidade de uma cópia de qualidade, encomendá-la ao fornecedor.

É possível contratar pesquisadores que têm experiência em trabalhar no NARA para fazer essa primeira filmagem, desde que você diga o quer. Para verificar se há algum tipo de audiovisual de seu interesse, faça buscas aqui preenchendo o campo "Search Term" com, por exemplo "Goulart and 1964 and Brazil" e optando por "Moving Images" no box "Type of Archival Materials". Você encontrará o filme "Mr. Ambassador", que divulguei em meu canal no YouTube em 2011.

Anote o "Local identifier" e entre em contato com um dos pesquisadores que trabalham no NARA para que ele faça uma primeira filmagem com celular (como essa que fiz do discurso do Dutra). Para ver uma relação de pesquisadores (atualizada em ordem aleatória cada vez que se entra nela), clique aqui.

SOBRE O FILME
Em maio de 1949, o presidente Eurico Dutra retribuiu a visita que o presidente norte-americano, Harry Truman, havia feito ao Brasil em 1947. Neste filme, vemos os membros do Congresso dos Estados Unidos recebendo os dois presidentes para uma das etapas das chamadas "visitas de Estado" que consiste, exatamente, em um discurso do presidente visitante no parlamento. Dutra é apresentado pelo senador Kenneth McKellar e pelo presidente da Câmara, Sam Rayburn. Em seguida, faz seu discurso e, depois, deixa o Congresso. Como já disse, trata-se de cópia de baixa qualidade apenas para exemplificar o processo mencionado acima. Se quiser conhecer o discurso de Dutra, leia-o aqui nessa edição do Correio da Manhã do dia 20 de maio de 1949.

A referência completa do filme é RG (Record Group) 111: Records of the Office of the Chief Signal Officer, 1860-1985. Series: Moving Images Relating to Military Activities, 1947-1964. Item: Pres. of Brazil Visit House of Representatives, Washington DC, 5/19/1949. Local Identifier: 111-ADC-7501