6 de out. de 2018

Sucessão presidencial

Viagem do presidente eleito aos EUA em 1967.
Embaixador Gordon ao fundo.
Carlos Fico


Havia temor de que o futuro presidente instalasse uma ditadura militar.

CONJUNTURA
Costa e Silva, ministro da Guerra do marechal Castello Branco, havia se imposto como candidato a sua sucessão. O próprio presidente Castello Branco e seu principais assessores não o viam com bons olhos - julgavam-no despreparado.

No dia 17 de fevereiro de 1966, Costa e Silva havia voltado de uma viagem ao exterior e foi recebido por muitos entusiastas de sua candidatura no Aeroporto do Galeão.

Os principais assessores de Castello Branco, os generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, aconselharam o presidente a agir no sentido de impedir que Costa e Silva se tornasse presidente. Eles achavam que o ministro implantaria um regime definitivamente ditatorial e militarista - que não supunham caracterizar o governo de Castello Branco.

SOBRE DOCUMENTO
No dia 16, o embaixador norte-americano, Lincoln Gordon, havia se encontrado com o ministro das Relações Exteriores, Juracy Magalhães (famoso por sua frase "O que é bom para os Estados Unidos é bom para o Brasil"), com o qual teve uma conversa - que relatou, no dia 18, ao Departamento de Estado.

O telegrama se intitula "Brazilian Presidential Succession". Ele está na caixa 1937 do fundo documental (record group) 59 chamado "Central Foreign Policy Files 1964-1966".

Leia abaixo a tradução do telegrama e veja, mais abaixo, a foto do documento original.

TRADUÇÃO
1. O ministro das Relações Exteriores, Juracy Magalhães, me disse quarta-feira à tarde que teve uma longa conversa política com o presidente Castello Branco na terça-feira antes da partida do presidente para Brasília. A razão para a conversa foi que vários assessores próximos do presidente, incluindo os generais Golbery e Geisel, tinham pedido a ele que reagisse agora contra a candidatura de Costa e Silva, na medida em que, permitir que sua campanha prossiga e prospere, certamente o levaria a se tornar presidente e isso, por sua vez, significaria uma ditadura militar no Brasil.

2. Juracy disse que, ao passo que também não gosta de Costa e Silva como possível presidente – e acha que seria desejável encontrar um homem com maiores qualificações –, ele discorda totalmente da recomendação acima. Ele acredita que o fato de Castello Branco tomar medidas concretas para evitar uma candidatura de Costa e Silva criaria divisões nítidas dentro das Forças Armadas com consequências potencialmente desastrosas. Embora a maioria do corpo de oficiais favorecesse Castello Branco sobre Costa e Silva em qualquer confronto direto sobre outras questões, muitos dos apoiadores de Castello Branco resistiriam e se oporiam a um veto presidencial à candidatura de Costa e Silva.

3. Juracy disse que, há algumas semanas, ele havia tentado a possibilidade de estimular a candidatura de Roberto Campos, mas havia encontrado resistência tanto em círculos políticos quanto militares. A opinião geral era que, apesar dos extraordinários talentos e habilidades de Campos, ele não era uma figura politicamente popular e também não teria o apoio coeso das Forças Armadas que o próximo presidente deve desfrutar.

4. De tudo isso, Juracy não concluiu que Costa e Silva necessariamente se tornaria presidente, mas achava que o enfraquecimento de suas perspectivas teria de depender de seus próprios possíveis erros, por ação ou omissão, nas próximas semanas, depois de seu retorno ao Brasil ontem. Juracy também rejeitou a noção de que Costa e Silva se tornaria necessariamente um ditador militar. Ele está preocupado com o temperamento impetuoso de Costa e Silva e acha que, em um confronto com o Congresso, seus impulsos podem ser o de fechar o Congresso. Por outro lado, Costa e Silva não assumiu de forma consistente posições duras, mas serviu como uma espécie de intermediário entre o presidente e a linha dura e mostrou um grande respeito pelas formas e práticas democráticas. Juracy sentiu que era perfeitamente possível deixar claro que o apoio a sua candidatura significava apoiá-lo como presidente constitucional, mas não apoiá-lo pessoalmente em quaisquer propostas precipitadas que ele pudesse em última análise considerar empreender. De fato, Juracy disse que esperaria que Costa e Silva desejasse atuar como presidente constitucional, resultando o perigo de ações ditatoriais mais de seu temperamento do que de quaisquer desejos enraizados de estabelecer uma ditadura ou comandá-la.

5. Juracy disse que o presidente Castello Branco sinalizou concordância com as visões que ele havia apresentado.

Gordon

O DOCUMENTO

IMPORTANTE: O DOCUMENTO AQUI REPRODUZIDO, OUTRORA CLASSIFICADO COMO "SECRET", FOI DESCLASSIFICADO PELA AUTORIDADE NORTE-AMERICANA PERTINENTE CONFORME NND 959000




Nenhum comentário:

Postar um comentário