Carlos Fico
Sua eleição resultaria em um "desastre para o Brasil". Ele seria "despreparado" e sua equipe, "muito ruim". A reeleição do então presidente seria a solução para impedir sua candidatura. O presidente achava que o candidato não tinha paciência nem equanimidade.
Assim foi avaliado Costa e Silva conforme relatos da diplomacia norte-americana.
Nesta postagem, vou incluir vários documentos correlatos. Neste caso, sobre a candidatura do general Costa e Silva, ministro da Guerra, à sucessão do marechal Castello Branco.
Traduzi alguns trechos que me parecem destacar aspectos interessantes. Entretanto, a ideia do blog é estimular a pesquisa da documentação norte-americana, o que demanda conhecimento do inglês. Há mais documentos sobre Costa e Silva no arquivo norte-americano: para saber como consultá-los, veja as dicas de pesquisa em outras postagens deste blog.
Os documentos aqui divulgados falam da tentativa dos assessores de Castello Branco de minar a candidatura do ministro da Guerra em 1965 e 1966. Chamam atenção, também, para algo pouco conhecido: Costa e Silva queria governar com uma constituição, deixando de lado os atos institucionais. Era nacionalista, crítico da industrialização (que prejudicaria a vocação agrícola do Brasil) e lutava contra a imagem de "sargento ignorante".
Assim foi avaliado Costa e Silva conforme relatos da diplomacia norte-americana.
Nesta postagem, vou incluir vários documentos correlatos. Neste caso, sobre a candidatura do general Costa e Silva, ministro da Guerra, à sucessão do marechal Castello Branco.
Traduzi alguns trechos que me parecem destacar aspectos interessantes. Entretanto, a ideia do blog é estimular a pesquisa da documentação norte-americana, o que demanda conhecimento do inglês. Há mais documentos sobre Costa e Silva no arquivo norte-americano: para saber como consultá-los, veja as dicas de pesquisa em outras postagens deste blog.
Os documentos aqui divulgados falam da tentativa dos assessores de Castello Branco de minar a candidatura do ministro da Guerra em 1965 e 1966. Chamam atenção, também, para algo pouco conhecido: Costa e Silva queria governar com uma constituição, deixando de lado os atos institucionais. Era nacionalista, crítico da industrialização (que prejudicaria a vocação agrícola do Brasil) e lutava contra a imagem de "sargento ignorante".
***
O segundo presidente do regime militar, Costa e Silva, se
impôs como candidato contra a vontade do primeiro, Castello Branco. Os
principais assessores de Castello tudo fizeram para evitar a candidatura de
Costa e Silva.
No dia 7 de maio de 1965, o embaixador dos Estados Unidos, Lincoln Gordon, enviou
telegrama secreto (veja aqui a página 1 e a página 2) para
o Departamento de Estado relatando várias conversas que o adido militar, Vernon
Walters, havia tido com o presidente Castello Branco dias antes. No parágrafo 5
deste telegrama, Gordon informa que Walters também se encontrou com o general
Ernesto Geisel, então chefe do Gabinete Militar de Castello, que teria demonstrado
preocupação com o fato de Castello se recusar a concorrer à reeleição: “Disse que o presidente não discutirá o
assunto nem com os confidentes mais próximo. Mas Geisel acrescentou que estava
confiante de que, por fim, quando o presidente percebesse o calibre dos
candidatos que se confrontariam naquele momento, ele poderia ser convencido a
concorrer”.
Oito meses depois, o próprio Castello Branco admitiria para
Vernon Walters que a candidatura de seu ministro da Guerra “estava forte”. É o
que está dito no relato (página 1, página 2) que o encarregado de Negócios da embaixada, Philip Raine, fez sobre conversa de
ARMA (Walters sempre usava a sigla “ARMA” para referir-se a
si mesmo nos telegramas. A sigla deriva da combinação das palavras army e attaché) com o presidente havida no dia 22 de janeiro de 1966.
Castello teria dito que “A maioria dos
potenciais oponentes estava relutante em dar um passo à frente, particularmente
os civis e, se essa situação continuasse, Costa e Silva pode muito bem ser o
próximo presidente do Brasil. Se isso ocorresse, ele provavelmente ‘cresceria’
consideravelmente no posto. As qualificações de que Costa e Silva mais carecia
para a presidência eram paciência e equanimidade” (parágrafo 1).
Em abril, Philip Raine transmitiu ao Departamento de Estado as impressões
do ministro da Justiça, Mem de Sá – que estaria “deprimido e amargurado” – (parágrafo 1 da página 1): “(...) ele disse que o ministro da Guerra, Costa e Silva, não poderia ser impedido
e, a menos que algum imprevisto ocorresse, ele seria o próximo presidente do
Brasil. Mem de Sá disse que isso pode ser um desastre para o Brasil. Em
resposta à minha pergunta sobre a base de seu julgamento quanto à competência
de Costa e Silva, ele não diria mais do que isso, o ministro da Guerra é
despreparado, mas particularmente o grupo ao seu redor é muito ruim”
(parágrafo 2). Segundo Raine, a única
observação não pessimista de Mem de Sá foi sua “esperança de que, como “Deus
é brasileiro”, se encontraria um jeito” (parágrafo 4 que está na página 2).
Costa e Silva foi indicado candidato pela Arena em 25 de
maio de 1966.
Em setembro, o embaixador John Tuthill (que substituíra Gordon desde junho de 1966) relatou conversa que teve com o candidato, na
companhia do sempre presente Vernon Walters, durante jantar oferecido ao candidato
na residência da embaixada. Estavam presentes também D. Yolanda Costa e Silva,
o filho Aécio Costa e Silva e o assessor Hernani d’Aguiar. O relato ocupou cinco páginas (1, 2, 3, 4 e 5). Costa e Silva, entre
outras coisas, disse que, desde JK, o Brasil dava ênfase exagerada à
industrialização (parágrafo 2). Sobre política, teria dito que “Como presidente, ele esperava governar sem
atos institucionais ou poderes especiais, mas primeiro o atual governo deve
dar-lhe uma nova constituição. Ele supunha que poderiam conseguir que o
Congresso a aprovasse, mas se isso não pudesse ser feito, então ela deve ser
publicada de qualquer modo” (parágrafo 6).
Costa e Silva foi eleito presidente da República pelo
Congresso Nacional no dia 3 de outubro de 1966.
Poucos dias depois, Raine mandou ao Departamento de Estado
uma avaliação de três páginas (1, 2 e 3) sobre o
futuro presidente avaliando sua habilidade em se manter longe de problemas.
Disse também que “Embora tenha indicado
que, no geral, seguirá as políticas do atual governo, ele ao mesmo tempo tem
estimulado a impressão de que sua administração representará um ‘retorno à
normalidade constitucional’. Sua capacidade de transmitir essa impressão se
deve em parte ao fato de que vários poderes presidenciais arbitrários expirarão
com o mandato de Castello Branco, mas Costa e Silva disse em várias ocasiões
que espera governar com os poderes que receberá e não buscar novas poderes
extraordinários” (parágrafo 5).
Como é comum nesse tipo de informação, Raine acrescentou
suas impressões sobre traços pessoais do futuro presidente: “No lado pessoal, Costa e Silva manteve sua
imagem como um sympatico homem do povo. Sua conduta astuta, geralmente contida,
ajudou de algum modo a dissipar a outra parte de sua imagem anterior, a de um
“sargento ignorante”. Embora ele não pareça ter gerado qualquer hostilidade específica,
também deve ser dito que não parece haver nenhum setor significativo da
sociedade brasileira que seja genuinamente otimista sobre as perspectivas de
sua administração. Sua esposa, Yolanda, continua sendo uma parte importante da
imagem de Costa e Silva. Aparentemente, ela estava mais receptiva às tentativas
de separá-lo do presidente do que ele, mas não parece ter influenciado muito
suas ações nesse sentido. Seu filho, Alcio, retirou-se do Exército e
envolveu-se em negócios particulares causando algum comentário na época por
causa de seu suposto emprego pela General Electric” (parágrafo 8).
SOBRE OS DOCUMENTOS
Todos os documentos citados estão na caixa 1937 do fundo
documental (Record Group) 59, nos National Archives and Records Administration,
em College Park (MD). Esses documentos, outrora sigilosos, foram
desclassificados pelas autoridades norte-americanas pertinentes conforme NND
959000.
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